Notícias  18 de Abril 2019

À descoberta dos anfíbios das Poças do Vau

À descoberta dos anfíbios das Poças do Vau

Visita noturna para observação de anfíbios.

Sabia que os anfíbios são um dos grupos de vertebrados mais ameaçados do mundo? A lista das ameaças é longa e inclui a destruição dos seus habitats, as alterações climáticas, a introdução de espécies exóticas e, especialmente nesta época do ano, em que procuram pontos de água para se reproduzir, a morte por atropelamento.

Foi para despertar para estes problemas que, no âmbito do Centro de Interpretação para a Lagoa de Óbidos, na noite de 13 de abril, realizámos um passeio noturno para observação de anfíbios nas Poças do Vau, derradeiros redutos de um paraíso palustre que em tempos ligou Óbidos às Caldas da Rainha.

Com entusiamo, miúdos e graúdos, com as suas lanternas em punho, aventuraram-se pela noite dentro à descoberta das várias espécies de sapos, rãs, salamandras e tritões desta zona húmida.

Sabendo que a maioria dos anfíbios tem uma atividade crepuscular ou noturna, juntando-se às condições climatéricas da noite, humidade, alguns salpicos da chuva e temperatura amena, advinhava-se uma noite cheia de surpresas.

Das treze espécies que ali se podiam observar, foram registadas no final da noite doze (algumas em estado larvar): a rela-meridional (Hyla meridionalis), a rela-arbórea (Hyla molleri), a rã-verde (Pelophylax perezi), a rã-de-focinho-pontiagudo (Discoglossus galganoi), o sapinho-de-verrugas-verdes-ibérico (Pelodytes ibericus), o sapo-de-unha-negra (Pelobates cultripes), sapo-parteiro-comum (Alytes obstetricans), a salamandra-de-pintas-amarela (Salamandra salamandra) o sapo-comum (Bufo spinosus), a salamandra-de-costelas-salientes (Pleurodeles waltl), o tritão-marmoreado-pigmeu (Triturus pygmaeus) e ainda alguns girinos de sapo-corredor (Epidalea calamita), recolhidos anteriormente de uma poça que se encontrava já a secar.

Rela-meridional (Hyla meridionalis)

Rela-arbórea (Hyla molleri).

Rã-de-focinho-pontiagudo (Discoglossus galganoi).

Sapinho-de-verrugas-verdes-ibérico (Pelodytes ibericus).

Sapo-de-unha-negra (Pelobates cultripes).

Sapo-parteiro-comum (Alytes obstetricans).

Sapo-comum (Bufo spinosus).

Salamandra-de-pintas-amarelas (Salamandra salamandra).

Salamandra-de-costelas-salientes (Pleurodeles waltl).

Larvas de salamandra-de-costelas-salientes (Pleurodeles waltl).

Girinos de sapo-corredor (Epidalea calamita).


Mas a noite reservava-nos mais surpresas... Durante o percurso o grupo foi surpreendido pela presença de uma cobra-de-escada (Elaphe scalaris) e por três cobras-de-água-viperina (Natrix maura) num charco temporário bem próximo das poças do Vau. Seria nesse mesmo charco que o grupo viria a encontrar um exemplar adulto e uma ninfa de Brachytron pratense, uma espécie de libelinha pouco documentada em Portugal, especialmente no Sul, e pouco usual de se encontrar num charco temporário, pois a larva demora mais de um ano a desenvolver-se na água.

Cobra-de-escada (Elaphe scalaris).

Cobra-de-água-viperina (Natrix maura).

Ninfa de Brachytron pratense.


Zonas húmidas como a grande poça do Vau e estes charcos temporários, suportam uma grande diversidade de vida que se urge preservar. A sua grande fragilidade ecológica, associada ao desconhecimento do seu valor natural e à degradação da paisagem por formas de gestão do território descontroladas, têm levado ao desaparecimento de muitos destes habitats um pouco por toda a região Oeste e, com eles, uma grande diversidade de espécies de flora e fauna, incluindo espécies ameaçadas.

Este tipo de atividades são assim um importante instrumento para dar a conhecer a vida ‘escondida’ associada a este tipo de habitat e despertar para a sua preservação.

O nosso agradecimento ao guia Paulo J. Lemos e a todos os participantes pelo seu envolvimento e entusiasmo!