​Quinta da Foz

​Quinta da Foz

A centenária Quinta da Foz está situada no centro histórico da povoação da Foz do Arelho, pois foi em torno do seu solar rural e das terras envolventes que este lugar se foi desenvolvendo.
Estávamos em 1568. De regresso da Índia, António Vaz Bernardes comprou a Francisco de Almeida várias propriedades, incluindo esta junto à Lagoa de Óbidos.


Nessa altura, a agora Quinta da Foz, designava-se Quinta de Nossa Senhora de Guadalupe onde havia, mais junto ao atual lugar de Nadadouro, uma pequena casa com a figura de Nossa Senhora de Guadalupe, ali colocada depois de um grupo de pescadores, aflitos na faina, ter sido salvo após sua evocação por proteção.


O solar da quinta era a única habitação nas redondezas. Na sua construção original, tinha uma vista panorâmica sobre a Lagoa de Óbidos e um ancoradouro privado do qual hoje apenas restam alguns vestígios. Mais tarde, ao seu lado, foi mandada construir uma Capela para onde foi transportada a imagem de Nossa Senhora de Guadalupe e onde ainda hoje se lhe pratica o culto. A Capela possui uma entrada pelo exterior e uma comunicação interior com o solar.

Sobre o seu portal podemos ler a seguinte legenda: “Esta casa de Nª S. de Guadalupe fez António Vaz de Medeiros por devoção na era de 1580”.


No ano de 1581, o rei D. Filipe I de Portugal, na pessoa de António Vaz Bernardes, instituiu o morgadio cuja cabeça se determinou ali, junto à Lagoa de Óbidos, na Casa e Quinta da Nossa Senhora de Guadalupe, mas que englobava outras propriedades além deste território, em Santarém e Lisboa. Junto à Lagoa, os terrenos estendiam-se para norte até junto à Serra do Bouro e incluíam, a nascente, os baldios das Caldas da Rainha.


Ao longo dos anos, as terras à volta da Quinta foram sendo cedidas sob a forma de pagamento dos foros a agricultores, primeiramente para o seu cultivo e, posteriormente, para a construção de habitações. Os foros eram o que hoje em dia designamos por aluguer. Quem ali pretendia cultivar ou construir habitação, teria assim de pagar uma renda ao senhorio. Esse foro era feito em género. As terras eram pagas em milho, um alqueire de milho por cada jeira, e as casas eram pagas com uma galinha e uma dúzia de ovos por ano. Apesar da insurgência de muitos habitantes, encabeçados pelas pessoas endinheiradas e influentes da Freguesia, só em 1984 é que se conseguiu a extinção de tal obrigação, por extinção dos morgadios. Alguns habitantes da aldeia pagaram foro até essa data.


Adaptado de “A Foz do Arelho na Lenda e na História”, de Jaime Umbelino, e do testemunho de Francisco José Calado (n.1942 - f.2020) in Memórias da Lagoa de Óbidos
https://memoriaparatodos.pt/portfolio/francisco-jose-calado/

Da original Casa e Quinta da Nossa Senhora da Guadalupe, atualmente apenas restam o solar, entretanto modificado por algumas obras de acrescento e restauro, a Capela e algumas terras (cerca de uma dezena de hectares).


Hoje propriedade da família Paiva Calado, o solar da Quinta da Foz funciona também como turismo de habitação, com oportunidade para estadias prolongadas, disponibilizando aos seus hóspedes alojamento em quartos com mobiliário clássico e histórico, bem como acesso ao seu delicado jardim e pátio com plátanos ancestrais.


"Desde o século XVI que na Quinta da Foz já dormiram reis e príncipes, já se arquitetaram salvamentos de figuras históricas que remontam às invasões napoleónicas, já ascenderam filhos, netos, bisnetos, trisnetos da família Paiva Magalhães – descendente dos aios de Afonso Henriques, dos capitães que cruzavam os mares até ao Oriente e de cavaleiros que nunca regressaram da batalha de Alcácer Quibir.” In Quinta da Foz