As salinas da Lagoa de Óbidos

As salinas da Lagoa de Óbidos

“Se voltar as costas ao mar, na praia, vejo ao fundo da lagoa as salinas.”
Memória de José António Ferreira (n.1935), natural da Foz do Arelho.

A extração de sal foi uma atividade tradicional da Lagoa de Óbidos cuja intensidade da exploração variou ao longo do tempo, mas que presentemente se encontra abandonada.


Antes da chegada da eletricidade à região havia a necessidade de grandes quantidades de sal para a conservação das carnes nas salgadeiras pois, por aqui, era tradicional matar-se um ou dois porcos ao ano. O sal era extraído, ensacado e transportado em carros de bois para os mais variados locais.


Fotografia das antigas salinas do Arelho [Fotografia disponibilizada pela Junta de Freguesia de Santa Maria, São Pedro e Sobral da Lagoa].



In Memórias da Lagoa de Óbidos:
Maria Rute Azevedo e Castro (n.1941), natural da Foz do Arelho, lembra-se do seu pai, comerciante, a levar de bateira até às salinas para trazer sacas de sal. Guarda na memória os grandes montes de sal que se viam logo a seguir ao Braço da Barrosa. Enchiam as sacas com pás e voltavam à margem da Foz, onde estava o cavalo com a carroça para as transportar até à vila, para venda.


Com os primeiros frigoríficos e a diminuição do costume da matança do porco, a produção de sal foi perdendo rentabilidade económica e as salinas foram sendo consecutivamente abandonadas, destruídas ou aproveitadas para outros fins.


Maximino Alves Martins (n.1943), natural do Arelho, recorda-se terem existido na Lagoa de Óbidos três salinas, duas no Arelho e uma no Braço da Barrosa:

“A primeira salina que se fez foi precisamente junto à lagoa, perto do cerro do Cavalo Sem Rabo”, frente às Charnecas, onde é hoje o parque de merendas das Salinas, no Arelho. Foram criadas pelos irmãos Serieiro, vindos da zona da Figueira da Foz, “indivíduos habituados a essas coisas”. A água era puxada da lagoa com a ajuda de um moinho de vento em madeira, construído pelo seu avô, o Sr. Maximino, carpinteiro no Arelho. Dali seguia por uma vala até aos canteiros, onde evaporava por ação do sol.


“Mas houve um natural do Arelho [Sr. José Daniel] que, ao ver aquilo, também lhe apeteceu fazer uma salina na zona do Juncalonco”, a norte do cerro da Mata d’Águia, no Braço da Barrosa. A salina foi criada num terreno que alugou aos Serviços da Hidráulica, aproveitando uma área entre uma ilha que ali existia [ilha dos Ratos] e a margem, mas “a exploração não foi rentável”.


A sul das salinas dos irmãos Serieiro, na zona da Santa Rufina, um seu familiar também vindo da zona da Figueira da Foz, fez umas outras salinas de onde ainda durante uns anos se foi retirando algum sal.


Mas foram as salinas dos irmãos Serieiro, as primeiras a serem criadas, as mais expressivas em termos económicos, em área e em tempo de laboração. Terão funcionado de 1931 a 1977.


Fotografia das antigas salinas do Arelho. Ao longe, é visível o moinho de vento que puxava água da lagoa para os canteiros. [Fotografia disponibilizada pela Junta de Freguesia de Santa Maria, São Pedro e Sobral da Lagoa]


Hoje, os antigos canteiros das salinas da Lagoa de Óbidos são já praticamente impercetíveis na paisagem. Nos meses de verão permanecem secos mas, quando inundados pelas chuvas, tornam-se num habitat importante para aves limícolas.


Referências: