A pesca na Lagoa de Óbidos remonta a tempos muito antigos e ainda hoje é uma das principais atividades desenvolvidas na Lagoa. Segundo alguns autores, há vestígios de pesca e de apanha de bivalves no período Neolítico e também no período Medieval.
De gerações em gerações a Lagoa de Óbidos tem sido a fonte de rendimento e de sustento para muitas das famílias que dela dependem.
Dada a sua capacidade de albergar uma grande variedade de espécies de moluscos bivalves, crustáceos e peixe, a comunidade piscatória desenvolveu ao longo dos tempos várias artes e métodos de pesca com características únicas - algumas hoje conhecidas como práticas tradicionais muito antigas da Lagoa de Óbidos - para capturar as diferentes espécies como o berbigão, a ameijoa-macha, a ameijoa-boa, o mexilhão, o caranguejo, o longueirão, a enguia, o robalo, o polvo, entre outras.
Porém, algumas destas artes de pesca já não são legais pelo que a sua utilização está atualmente proibida. São exemplos a Fisga e a Majerrona.
As normas reguladoras da atividade da pesca na Lagoa, como as artes de pesca autorizadas e licenciadas, são estabelecidas pelo regulamento de pesca da Lagoa de Óbidos, de forma a assegurar a correta gestão e conservação dos recursos ocorrentes em tão sensível ecossistema.
A apanha dos bivalves pode ser efetuada a pé em zonas pouco profundas ou com o auxílio da embarcação – Bateira - também ela característica da Lagoa de Óbidos. Alguns dos mariscadores recorrem ao mergulho em apneia para efetuarem a captura.
Na pesca são utilizadas redes de emalhar e enredar que são estruturas em rede com vários panos de diferentes malhagens nas quais os peixes ficam emalhados ou enredados.
Antigamente estas redes eram feitas à mão com linha de sisal e linho, mas com o passar dos anos passaram a ser utilizados materiais sintéticos em nylon devido não só à falta de mão-de-obra mas também por serem materiais mais duradouros no contacto com a água.
Algumas das práticas piscatórias na Lagoa de Óbidos já caíram em desuso, como é a prática da “pesca ao candeio”, bastante presente nas gerações mais antigas. Consistia em ir à pesca nas águas calmas e em noites escuras de verão, fazendo deslizar suavemente a Bateira (conduzir à vara) com um candeio posicionado perto da água. Os peixes que se sentiam atraídos pela luz surgiam à superfície da água e ao ficarem encandeados pela luminosidade do candeio daria tempo para que fossem apanhados pelo pescador com a ajuda de uma fisga. A título de exemplo, espécies como robalos, linguados, solhas e enguias eram capturados.
Lanternas a petróleo: Isabel Rosendo / Memórias para Todos.
Vara: Marco Tomás / Memórias para Todos
São características da Lagoa de Óbidos as seguintes artes e métodos de pesca:
Adriça ou Vareta do Longueirão, utensílio utilizado na baixa-mar para apanha de longueirão.
Ancinho, é uma draga de mão usada na apanha de moluscos bivalves como a ameijoa-macha, ameijoa-boa e berbigão. Este método de pesca pode ser manobrado a pé ou a bordo de uma embarcação. Também conhecido como berbigoeiro ou ancinho de berbigão quando é para a apanha do berbigão ou por ancinho de ameijoa quando é dirigido para a apanha das ameijoas.
Berbigoeiro – Alberto Jacinto / Memórias para Todos.
Ancinho da ameijoa: Marco Tomás / Memórias para Todos.
Aparelho da Enguia, embora já não seja uma arte praticamente usada pelos pescadores da Lagoa, trata-se de um palangre fundeado - aparelho de pesca de linha principal e muitas linhas secundárias onde são colocados cerca de 40 a 50 anzóis. O isco utilizado era sardinha ou caranguejo.
Chinchorro/Chincha, é uma arte envolvente arrastante para terra utilizada para a captura de enguia, usada de setembro a maio. Nos meses de outubro a dezembro esta arte é utilizada na captura de camarão. É composta por um saco de rede na parte central, do qual saem as “asas” constituídas também por rede que vão decrescendo em altura até aos respetivos extremos.
Chinchorro: Marco Tomás / Memórias para Todos.
Chinchorro: Valdemar Lopes / Memórias para Todos.
Chuço/Faca de Mariscar, utensílio de mão utilizado para a apanha de ameijoa, berbigão e mexilhão. Com uma lâmina metálica, de bordo não cortante, destaca e remove os bivalves do substrato onde estão agarrados ou enterrados.
Fisga, embora seja um método de pesca atualmente proibido servia para capturar enguia e linguado. Os seus dentes direitos e barbelados, semelhantes a anzóis, permitiam capturar as presas por ferimento.
Fisga - Alberto Jacinto / Memórias para Todos.
Fisga – José Carlos Henriques / Memórias para Todos.
Fisga – Marco Tomás / Memórias para Todos.
Fisgote, utensílio de mão usado na apanha de ameijoa e berbigão. Com um pente de três dentes permite destacar ou remover os bivalves do lodo ou areia onde estão enterrados.
Fisgote:Valdemar Lopes / Memórias para Todos.
Galricho, é um método de pesca utilizado todo o ano que consta numa armadilha desmontável tipo “nassa” para a captura de enguia. Fixado no fundo, o galricho é composto por aros revestidos por rede de pequena malhagem com
dois endiches na parte interior que permitem a entrada da enguia.
Galricho: Alberto Jacinto / Memórias para Todos.
Galricho: Marco Tomás / Memórias para Todos.
Majerrona, embora esteja atualmente proibida era uma arte utilizada todo o ano que está em desuso. Trata-se de uma arte arrastante a reboco da embarcação, utilizada para a captura de camarão e caranguejo.
Nassa do caranguejo, é um método de pesca utilizado todo o ano que consta numa armadilha desmontável utilizada na captura de caranguejo. Fixada no fundo, a nassa é constituída por aros revestidos de rede de pequena malhagem, com endiches nas extremidades que permitem a entrada do caranguejo.
Nassa: José Luís Quaresma/ Memórias para Todos.
Pá, utilizada para auxílio da apanha de poliquetas.
Rede de Arrojo, embora seja uma arte atualmente proibida, a arte envolvente arrastante para terra era utilizada durante o verão para a captura de tainhas e de robalo. Era constituída por uma pequena rede composta por vários panos que com a ajuda das boias na parte superior e os chumbos na parte inferior criam um cerco/parede na coluna de água capturando assim o pescado.
Rede de Emalhar, é uma arte utilizada todo o ano e consiste numa rede de emalhar de um único pano, fundeada, de superfície utilizada na captura de taínhas, isco para as nassas do caranguejo.
Tresmalho, arte utilizada todo o ano que consta numa rede de tresmalho de fundo usada na captura de linguado, robalo e choco.
Outras artes de pesca que embora não façam parte das principais também são ou já foram usadas na Lagoa de Óbidos:
Corrico ou Corripo, é constituída por uma linha (madre) e um ou poucos anzóis utilizada na captura de peixes diversos. É um aparelho de pesca rebocado.
Linha de mão, é constituída por uma linha (madre) e anzóis utilizada na captura de peixes diversos. Pode ser largada de terra ou a bordo da embarcação e serve para a pesca de fundo, intermédia ou de superfície.