Francisco de Almeida Grandella (1853-1934) foi um abastado comerciante e industrial, proprietário dos famosos Armazéns Grandella no Chiado, em Lisboa. Convicto Republicano iniciado na maçonaria e filiado na Loja José Estêvão sob o nome de “Pilatos”, foi eleito vereador da câmara municipal nas eleições de 1908.
Cedo abraçou causas sociais - procurando dotar os seus empregados e operários de melhores condições de vida, custeou a construção de um bairro operário e de escolas nas povoações onde detinha interesses económicos.
Nascido em Aveiras de Cima, Grandella “descobriu” a Foz do Arelho nos últimos anos do século XIX, por ocasião de tratamentos termais nas Caldas da Rainha.
A sua paixão por este lugar, que passou a frequentar como estância de veraneio, levou-o a pedir autorização, em 1898, a Francisco Paiva Magalhães – então proprietário de todos os terrenos entre a povoação da Foz do Arelho e o mar – para construir uma “pequena” casa numa encosta com vista para a Lagoa de Óbidos.
O edifício, que se viria a revelar uma vivenda apalaçada – o Palacete Grandella – era a sua residência de férias. Erigido entre 1898 e 1907 ao estilo neomanuelino, foi a primeira casa que alguém, vindo de fora, construiu na Foz do Arelho. Na sua propriedade, delimitada por uma extensa muralha com ameias, ainda hoje presente, faziam também parte um torreão e uma pequena capela. O palacete, para além de decorado com peças de arte (móveis, pinturas e esculturas) e azulejos, incluía, entre outras, uma pequena sala de espetáculos (teatro privado).
Passados alguns meses do início da construção do palacete, Grandella pediu novamente autorização para edificar um conjunto de habitações na enseada da Lagoa de Óbidos, em frente à sua nova casa. Tratava-se de uma estância, também de férias, para os seus funcionários dos armazéns e fábrica, a quem tratava com carinho e humanismo, dando-lhes todas as condições merecidas a fim de que estes vivessem bem.
Este era o seu projeto para transformar aquela zona numa estância turística, trazendo à Foz do Arelho um desenvolvimento turístico que desejava harmonioso.
Visionário, boémio e dono de um império, Grandella trouxe à pequena vila da Foz do Arelho um cenário de festas glamorosas, banquetes e caçadas que ficaram para a história, como a participação de mestres de falcoaria árabes por ele mandados vir para caçar nas margens da Lagoa de Óbidos.
Entre outras histórias que se contam na terra, fala-se dos jantares dos Makavenkos, um clube de amigos com estatutos aprovados cuja divisa era “Honra, caridade e alegria”, que partilhavam o gosto pela arte e por saraus gastronómicos, investindo do seu tempo e dinheiro em atos de solidariedade.
Rodeado de familiares e amigos que brindava com festas e caçadas privadas no abrigo das suas ameias, Grandella ali passaria a maior parte da sua vida.
Francisco de Almeida Grandella faleceu na Foz do Arelho, em 1934.
Seis anos depois da sua morte, era inaugurada nos terrenos e palacete que lhe pertenceram a “Colónia Balnear Infantil Marechal Carmona” da Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho (FNAT)*. Esta colónia de férias era destinada essencialmente aos filhos dos sócios efetivos das Casas do povo da população a sul do Mondego. Em 1958 a colónia de férias foi alargada e convertida também para adultos. Hoje, o antigo Palacete Grandella encontra-se bastante alterado, correspondendo a uma unidade hoteleira da Fundação INATEL.
- Nota ao leitor: Até às primeiras décadas de mil e novecentos, o turismo era sobretudo uma atividade de luxo, reservado aos mais favorecidos. A ocupação dos tempos livres dos trabalhadores centrava-se em associações e sociedades populares de educação e recreio e em atividades de excursionismo, música e leitura. O desenvolvimento de um verdadeiro “turismo social” só em meados dos anos trinta conhece um efetivo desenvolvimento. E o impulso decisivo deve-se em grande parte à criação, em Junho de 1935, da Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho (FNAT), hoje Fundação INATEL.
Postal da coleção de Miguel Chaby “Foz do Arelho”, disponível no arquivo digital http://ww3.aeje.pt/avcultur/avcultur/Postais/FozArelho01.htm
Fontes consultadas:
- “A Foz do Arelho na Lenda e na História”, de Jaime Umbelino.
https://acasasenhorial.org/acs/index.php/en/fontes-documentais-en/fotografia-en/523-palacete-grandella-foz-do-arelho
Santos, C., Baptista, C., Alves, C., Cardoso, H., Fernandes, M.J., Dias, M.J., Ribeiro, R., Duarte, S. (2005). Dossier de Candidatura à Classificação de Área de Paisagem Protegida de Âmbito Regional da Lagoa de Óbidos – Versão preliminar. Instituto de Conservação da Natureza, Câmara Municipal de Caldas da Rainha, Câmara Municipal de Óbidos e Associação de Defesa do Paul de Tornada – PATO.
Penha, M. (2015). A Lagoa de Óbidos, o Mar e Eu. III Antologia das Letras da Lagoa de Óbidos. Editora Miká Penha.
Fundação INATEL [https://www.inatel.pt/Fundacao/INATEL-(2)/Fundacao/Historia/FNAT/FNAT/As-colonias-de-ferias.aspx]
https://www.publico.pt/2004/06/06/jornal/hoteis-com-historia-189308