Na margem sul da Lagoa de Óbidos, entre o Braço do Bom Sucesso e a praia com o mesmo nome, ainda hoje encontramos algumas cabanas de pescadores locais, utilizadas para estes guardarem apetrechos da pesca e descansarem. Mas as primeiras cabanas da Lagoa de Óbidos surgiram na margem norte da laguna, há mais de 200 anos (séc. XVIII), construídas pelos «Varinos» naquelas que foram as suas primeiras migrações. Eram conhecidas como as «barracas» dos pescadores e tinham um formato e uma função diferentes das cabanas dos pescadores de hoje.
As populações das antigas aldeias em torno da Lagoa de Óbidos dedicavam-se à agricultura, retirando da laguna os limos para adubar os campos e algum marisco e peixe para a sua alimentação. Os primeiros pescadores profissionais a trabalhar na Lagoa de Óbidos não eram daqui. Chegaram em dois barcos moliceiros vindos da Murtosa, na Ria de Aveiro, outra importante zona húmida da costa portuguesa, localizada a cerca de 140 km a norte da Lagoa de Óbidos. Procuravam aqui as águas mais calmas da Lagoa, no período de Inverno, onde as condições eram por isso mais propícias à sua atividade.
Por se encontrarem deslocados e aqui passarem longas temporadas, construíram à beira da laguna estruturas rudimentares onde viviam, conhecidas como as «barracas» da Lagoa de Óbidos. Durante os oito meses de companha que os pescadores Varinos passavam na Lagoa de Óbidos, “ali cozinhavam, dormiam e guardavam o pouco que tinham”.
Não é consensual se estes Varinos vieram primeiro para o lugar da Foz do Arelho ou do Nadadouro, as duas aldeias mais próximas das margens da laguna, dado que acabaram por se estabelecer em ambos. Contudo, foi aqui, entre a Ardonha e o Cais Palafítico, que os Varinos vindos da Murtosa primeiro se estabeleceram no Nadadouro e ergueram as suas barracas.
As «barracas» dos pescadores da Lagoa de Óbidos eram erigidas com materiais de origem vegetal (varas de pinho e eucalipto, caniços, bunho, junco, palha, tábuas e barrotes). Apresentavam a forma de cunha, mais largas na frente que na parte de trás, com cobertura de duas águas, que se prolongava até ao chão, em caniço. Muitas vezes, eram aproveitados objetos arrastados pelas correntes, para dar consistência às edificações, como troncos e outras madeiras.
Hoje, a sua presença permanece apenas na memória dos mais velhos.
Em 2021, o Centro de Interpretação da Lagoa de Óbidos e o Coletivo Guarda-rios juntaram-se num projeto artístico para a construção de uma réplica de uma «barraca» dos pescadores da Lagoa de Óbidos, concretizado com a ajuda de membros da comunidade local. Pode visitá-la no edifício do Centro de Interpretação da Lagoa de Óbidos, na Foz do Arelho.
Fontes consultadas:
“As ‘barracas’ dos pescadores da Lagoa de Óbidos” de Alberto Vieira Batista (Revista de Guimarães, 1986)
“Faina na Lagoa” de Carlos Manuel Maximiano Baptista (2005)
Fotografia de Vítor e Clementina Silva, em “Memórias da Lagoa de Óbidos”.